tag:blogger.com,1999:blog-24147923710045392892024-03-08T02:13:49.885-08:00Elogio da RazãoMenos escritura e mais literatura...Unknownnoreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-2414792371004539289.post-72151773534274944492009-09-29T08:16:00.001-07:002009-09-29T08:16:53.652-07:00Desejo AteuTesão artimanha da razão para nos fazer perder o juízo<br />Engrandece a matéria, o desejo, a libido<br />A vontade não sacia o arrepio na espinha<br />O calor do corpo insano, a pele, encostada por engano.<br />Palavras sem sentido, vezes ditas ao pé do ouvido<br />Carecem de recado, cultuam o pecado<br />Sabor inusitado, quando muito proibido<br />Vira fato consumado. <br /><br />Dizem não cobiçaras. À vontade o fará<br />Perdoe-me o próximo, falo em nome do deleite<br />O prazer que esquenta a carne faz do outro o enfeite<br />Sinto-me profana, mais gostosa do que nunca<br />Entre as pernas uma chama, uma nobre vagabunda<br />Se me entrego me arrependo, se seguro não agüento<br />Uma puta em rebeldia, furiosa no momento<br />Deusa da pornografia<br /><br />Ao cristão arrependido, preocupado com o pecado<br />Patético e reprimido um rebanho mal tratado<br />Deixo aqui a insolente verdade que vos trago<br />Do desejo sou escrava, antes ele do que deus<br />Ovelha a qualquer homem. Realizo sonhos meus<br />De vontade não padeço, do sexo não abro mão<br />Desejada sem vergonha, corrompida a razão<br />O corpo aqui escreve inconsciente do meu eu<br />Grandiosa tentação: Meu tesão pelos ateus.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2414792371004539289.post-47271721372389911592009-09-24T14:34:00.001-07:002009-09-24T14:34:53.163-07:00Solidariedade CristãO barraco da Luzia parecia uma taberna, construído na favela com papel e lata velha.<br />Cama de papelão, escrivaninha de latão a fogueira era o fogão.<br />Nascida de parteira, na barraca de uma feira, abandonada na soleira, sem eira nem beira.<br />Sua mãe era uma puta, o pai ninguém conhece, um estrangeiro, um maloqueiro quem sabe um macumbeiro. O que importa?<br />Aos trinta era magrela, desdentada e banguela. Tinha pelos no bigode, no sovaco, vê se pode, tinha cheiro de azedo. Na mão esquerda só o toco na mão direita só um dedo. <br />Na Bahia fez 03 filhos em São Paulo mais nenhum. Os filhos que tivera ficaram na terra do Olodum. Para onde foram ninguém sabe, ninguém nunca saberá. A narradora desta história não pretende lhes contar. <br />A Luzia era guerreira, dia e noite faxineira, todo dia no batente. O domingo era sagrado, pra rezar pelos pecados de nascer tão indigente. <br />No latão a sua bíblia, no pescoço o escapulário, o crucifixo que ganhara, dentro do armário. A igreja era alegria, conformava a rebeldia, garantia a salvação. Como todo bom cristão a Luzia sempre orava e pedia redenção. <br />Tomava a sua hóstia e o vinho consagrado pela transubstanciação. Era o corpo de seu cristo, o sangue do seu deus. Tudo em que acreditava, o que a fé lhe ofereceu. <br />A caridade era um princípio, o amor uma verdade, dentre todos os valores estava a solidariedade.<br />A pobre favelada não almejava o conforto. Vivia tão precariamente, não diferente de um porco. <br />Entre o dízimo e a doação não lhe sobrava um tostão, satisfeita ela vivia, vez enquanto repetia: “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de deus”. <br />O seu lugar era garantido, seria um dos poucos escolhidos para tocar harpa no céu. Havia sim alguns pecados, já estavam perdoados, sacramentos consumados, a deus era fiel. <br />Amava o todo poderoso, não invocava o nome em vão, não cobiçava coisas alheias e a seus pais tinha gratidão. <br />Voltando do serviço, livre de qualquer vício veja o que lhe aconteceu:<br />Luzia foi atacada, por três homens espancada e então violentada.<br />Passou semanas no hospital, alguns diziam ser letal, não sobreviveria desse mal. <br />Poucos a visitaram, alguns a julgaram: “É filha da puta” eles diziam. Para aqueles que não sabiam, logo foi uma explicação. <br />A mulher sobreviveu se apegou em sua fé, se agarrou as suas forças, em três semanas estava em pé. <br />Descobriu estar gestante. E como se já não fosse o bastante contraiu o vírus mutante. <br />Desamparada e atordoada Luzia se apavorou: Em um rompante de lágrimas seu filho ela tirou. <br />O rebanho tão querido, mais amado, mais amigo, sabendo do ocorrido não tardou em espalhar. A noticia correu logo, tão depressa não sei como, chegou breve ao altar. <br />O vaticano tomou ciência, não pensou em dar clemência, apressou-se em julgar.<br />Era fato consumado, pela bíblia respaldado o papa nem quis se levantar.<br />Sentado em seu trono, na postura imbatível, proferiu seu julgamento severo e infalível:<br />Luzia desgraçada, humilhada e estuprada, foi por deus excomungada. <br />Foi num dia de agosto, com a corda do desgosto, enrolado no pescoço que Luzia saltou. Suicidou ao meio dia, acusada de vadia, sua vida acabou. <br /> <br />Foi pro céu? Não sei. Para o inferno? Ninguém sabe. <br /><br />Na missa de domingo foi motivo de sermão: “Veja só o que acontece com quem não é um bom cristão!”<br />Não sou dada há fantasia, tenho horror a hipocrisia, eis aqui uma lição: <br /><br />Só há uma garantia a qualquer religião: Os vermes satisfeitos por mais uma refeição.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2414792371004539289.post-71124014868401682032009-09-22T19:25:00.000-07:002009-09-22T19:26:12.548-07:00A má fé...Petrônio Macedo, 35 anos, casado, demente, quero dizer: temente, a deus. Cobiçava a mulher do próximo, perdoava-se por não ser tão próximo. Católico de nascença, evangélico em sua essência. Espancava esporadicamente seus três filhos, já lhe dizia a mãe: Se não vai pelo amor, vai pela dor. O mais longe que fora na literatura consistia em algumas páginas da escritura. Miserável nas condições financeiras, a vida se resumia em suas barracas nas feiras. Jamais lhe faltaria o dízimo, dava-se por satisfeito.<br />Segunda a sábado se resumia a frutas: Maça, pêra, romã. Uva, jabuticaba, goiaba. Laranja, morango e banana, assim finalizava a semana. Domingo era um homem devotado. Á bíblia, a deus, ao pastor e ao estado. <br />Orava por todos que amava inclusive a quem odiava. Fazia-o pelo grande temor. Medo do deus do amor. O pastor não poupava as palavras: “Jesus ou a dor!”. <br />Seu barraco, um tanto capenga, a cama era a rede debaixo da tenda. Madalena Batista uma bela esposa, conhecera-a no tempo da lousa. Bons tempos aqueles. Não passara da quarta série, a gravidez da namorada, a ignorância constatada, o estudo não serviria pra nada.<br />Nunca se arrependeu, era macho de mais para arrependimentos, as chances que perdeu era no mínimo desejo de deus. <br />É extraordinário o que lhe aconteceu: No domingo do culto a seu deus, uma revelação se sucedeu: Ao acordar as sete da matina, Madalena Batista já havia dobrado a esquina. Estranhou e até quis insultá-la. Impossível por tanto amá-la. Preferiu acreditar na vizinha: “Foi buscar uma remédio pra enxaqueca, coitadinha”. Esperou por três dias e meio, vasculhou o bairro, os parques, as escolas, até os bueiros. <br />O pastor resolveu logo a questão: Madalena havia subido aos céus. Petrônio Macedo, coitado, teria acreditado até se dissessem que foi virar ajudante de Noel. <br />Virou logo uma celebridade, marido da mulher mais santa da cidade. Alguns chegavam a dizer que era virgem. Petrônio Macedo, cabra macho que era não gostou da citação, mas dizia-lhe o pastor: “É para o bem do povão”. <br />O tempo passou, um templo montou. A população da pequena cidade de Assunção se esforçava para caber na lotação, quem em letras garrafais dizia: Igreja de todos os dias. <br />Das frutas Petrônio abriu mão, já estava garantido o seu pão. Seus filhos agora estudavam, faziam inglês, computação e redação. O mais velho responsável pelo evangelho, o mais moço só servia para lhe causar desgosto. <br />Petrônio Macedo ficara até mais bonito, dentes mais brancos, ternos mais nobres, Madalena nem acreditaria se tivesse o visto. <br />Acontece que nem tudo é perfeito, nem mesmo tendo se tornado o melhor amigo do prefeito! No dia mais cinzento do ano, aconteceu um milagre: sua mulher aparecera no templo, mãos dadas com seu velho amigo Bento. Petrônio quase não pode acreditar, de tão trêmulo caiu do altar. <br />Lembrou-se das palavras do pastor: Sua mulher teria sido levada pelo Senhor. O rebanho logo a notou. Por um segundo o local ficou todo agitado, o povo reclamava por todos os lados, queriam uma explicação, um sentido. Petrônio, já então um bandido, gritou comovido: Bento meu grande amigo, então és tu o deus prometido?Unknownnoreply@blogger.com0