Petrônio Macedo, 35 anos, casado, demente, quero dizer: temente, a deus. Cobiçava a mulher do próximo, perdoava-se por não ser tão próximo. Católico de nascença, evangélico em sua essência. Espancava esporadicamente seus três filhos, já lhe dizia a mãe: Se não vai pelo amor, vai pela dor. O mais longe que fora na literatura consistia em algumas páginas da escritura. Miserável nas condições financeiras, a vida se resumia em suas barracas nas feiras. Jamais lhe faltaria o dízimo, dava-se por satisfeito.
Segunda a sábado se resumia a frutas: Maça, pêra, romã. Uva, jabuticaba, goiaba. Laranja, morango e banana, assim finalizava a semana. Domingo era um homem devotado. Á bíblia, a deus, ao pastor e ao estado.
Orava por todos que amava inclusive a quem odiava. Fazia-o pelo grande temor. Medo do deus do amor. O pastor não poupava as palavras: “Jesus ou a dor!”.
Seu barraco, um tanto capenga, a cama era a rede debaixo da tenda. Madalena Batista uma bela esposa, conhecera-a no tempo da lousa. Bons tempos aqueles. Não passara da quarta série, a gravidez da namorada, a ignorância constatada, o estudo não serviria pra nada.
Nunca se arrependeu, era macho de mais para arrependimentos, as chances que perdeu era no mínimo desejo de deus.
É extraordinário o que lhe aconteceu: No domingo do culto a seu deus, uma revelação se sucedeu: Ao acordar as sete da matina, Madalena Batista já havia dobrado a esquina. Estranhou e até quis insultá-la. Impossível por tanto amá-la. Preferiu acreditar na vizinha: “Foi buscar uma remédio pra enxaqueca, coitadinha”. Esperou por três dias e meio, vasculhou o bairro, os parques, as escolas, até os bueiros.
O pastor resolveu logo a questão: Madalena havia subido aos céus. Petrônio Macedo, coitado, teria acreditado até se dissessem que foi virar ajudante de Noel.
Virou logo uma celebridade, marido da mulher mais santa da cidade. Alguns chegavam a dizer que era virgem. Petrônio Macedo, cabra macho que era não gostou da citação, mas dizia-lhe o pastor: “É para o bem do povão”.
O tempo passou, um templo montou. A população da pequena cidade de Assunção se esforçava para caber na lotação, quem em letras garrafais dizia: Igreja de todos os dias.
Das frutas Petrônio abriu mão, já estava garantido o seu pão. Seus filhos agora estudavam, faziam inglês, computação e redação. O mais velho responsável pelo evangelho, o mais moço só servia para lhe causar desgosto.
Petrônio Macedo ficara até mais bonito, dentes mais brancos, ternos mais nobres, Madalena nem acreditaria se tivesse o visto.
Acontece que nem tudo é perfeito, nem mesmo tendo se tornado o melhor amigo do prefeito! No dia mais cinzento do ano, aconteceu um milagre: sua mulher aparecera no templo, mãos dadas com seu velho amigo Bento. Petrônio quase não pode acreditar, de tão trêmulo caiu do altar.
Lembrou-se das palavras do pastor: Sua mulher teria sido levada pelo Senhor. O rebanho logo a notou. Por um segundo o local ficou todo agitado, o povo reclamava por todos os lados, queriam uma explicação, um sentido. Petrônio, já então um bandido, gritou comovido: Bento meu grande amigo, então és tu o deus prometido?
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